Doença Diverticular

No Brasil, a palavra diverticulite ficou muito conhecida após o episódio que levou à morte o então Presidente Tancredo de Almeida Neves, em 21.04.1985.

É comum, no consultório, o paciente falar que tem “diverticulite”. Na prática, é difícil mesmo saber se existe inflamação associada em torno de divertículos (diverticulite) ou quando existem divertículos sem este processo inflamatório agregado (diverticulose).

Por esta razão os termos “diverticulose” e “diverticulite” são usados cada vez com menos freqüência, sendo substituídos pela expressão Doença Diverticular.

“Diverticulum” vem do latim, significa desvio. Divertículo é uma formação circunscrita em forma de bolsa ou de saco, de dimensões variáveis, produzida em um órgão tubular por herniação de parte do revestimento mucoso deste órgão, através de suas camadas.

É difícil saber sobre a incidência exata do problema em nossa população, porque esta doença ocorre, muitas vezes, totalmente sem sintomas.

Parece haver uma prevalência maior no sexo feminino, sendo muito rara antes dos 35 anos de idade. Algumas estatísticas mostram que, após os 60 anos até 30 % da população pode apresentar divertículos. Também é descrita por alguns autores uma associação familiar.

É mais comum em países e regiões industrializadas e praticamente desconhecida em certos países africanos. Esta distribuição geográfica se deve provavelmente aos hábitos alimentares que tornam a dieta mais pobre em fibras com o aumento significativo dos alimentos industrializados.

O cólon sigmóide, que faz parte do lado esquerdo do intestino grosso, é a região mais afetada, isolada ou associada a outras partes. Cerca de 6,5% dos portadores de Doença Diverticular tem acometimento de todo o intestino. Provavelmente, precedendo a formação de divertículos, ocorre uma hipertrofia da camada muscular do intestino. A dieta alimentar com baixa quantidade de fibras exige da musculatura do intestino grosso um esforço aumentado. Este esforço exagerado para movimentar as fezes causa um aumento da pressão no interior do intestino (o que foi demonstrado por vários autores) e, como resultado, a formação de divertículos em pontos fracos da parede deste órgão.

Como disse anteriormente, os pacientes muitas vezes não têm sintoma algum e a descoberta do problema é feita de maneira acidental. Outras vezes, os sintomas são muito vagos: mal estar ou dor mal definida na parte central do abdome e mais freqüentemente no lado esquerdo próximo a virilha. Muitas vezes esta sensação de incômodo é atribuída sem razão a manifestações de natureza psicológica. A dor abdominal é um sintoma bastante comum e pode chegar a ser de grande intensidade, dependendo da existência ou não de complicações associadas. Distensão abdominal flatulenta e alteração do ritmo intestinal são também relatadas assiduamente. Quanto à alteração do hábito intestinal é comum a diarréia esporádica ou diarréia intercalada com períodos de obstipação (ressecamento), entre outras. Pode ocorrer também perda sanguínea nas fezes, desde sangramentos discretos até aqueles que necessitam de transfusão sanguínea urgente.

Várias complicações sérias podem acontecer, tais como: diverticulite aguda com peritonite localizada ou difusa, formação de fístulas, obstrução intestinal e hemorragia. A exata relação entre câncer e doença diverticular não está inteiramente estabelecida, mas o diagnóstico diferencial por vezes é difícil.

O tratamento basicamente consiste na mudança de hábitos alimentares – uma dieta rica em fibras (grãos, legumes, vegetais, frutas) é de fundamental importância. Deve existir uma restrição a massas e a outros alimentos. A ingestão de líquidos tem que ser abundante. Outros hábitos não relacionados com a dieta parecem ajudar, como por exemplo, atividade física regular.

O tratamento com cirurgia é reservado principalmente para os casos onde existem complicações associadas e quando o tratamento clínico não surte o efeito desejado. Quando é indicada, o procedimento mais comum é a remoção de parte do intestino grosso (lado esquerdo).

A Doença Diverticular, como vimos, tem muito a ver com os nossos hábitos alimentares e nosso estilo de vida. Devido a grande prevalência de casos totalmente assintomáticos na população e também tendo em mente uma prevenção quanto ao câncer do intestino, acho muito importante um exame após os 50 anos para que se façam diagnósticos precoces.

*Dr. Alvaro L. R. de Paula